domingo, 7 de fevereiro de 2010

Tráfego

A cidade não pára,
Não pára de parar
Na hora do pico
Não pára de crescer
Pra cima, pra baixo
Não pára o descaso
Não!
Pára!
Mais uma vida
Não pára de morrer
Não param de crescer
Não param, não param
Não param os números
Pra mais,
Pra menos.
Não pára a cidade.
Parado,
É um assalto!
Me dá seu dinheiro,
Não pára de pagar
Lícito, ilícito
Legalizado, irregular
É um assalto!
Não pára não,
Continua andando
Não olha pra trás,
Atrás
Dos prédios,
Não para a cidade.
Não param os morros.
Morro de fome,
Não pára essa ânsia.
Não param os morros,
Pra cima, pra baixo
Não param de crescer,
Essa distância
Do quilombo ao Paraíso
Não pára o Paraíso belo,
Não pára de cegueira,
Prá'queles que não podem desfrutá-lo.
Tens os melhores frutos
E eu
Não páro de comer o caroço.
Passageiro cotidiano de navio negreiro,
Meu destino certo é receber xicotadas.

Por tudo isso
Parou-se a voz,
Parou-se o suspiro,
Parou-se no tempo,
Parou-se tudo!

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