domingo, 28 de fevereiro de 2010

Bem vindo a guerra

Um estampido
Mais um homem caído.
A criança berra
É a guerra.
Os soldados do opressor
disfarçados saem fugidos.

No dia seguinte
Faixas de protesto,
Pneu queimado,
Avenida interditada
E lembranças de sonhos desmontados.
Não podiam faltar também
Soldados do opressor
Uniformizados,
Com balas de borracha
E gás lacrimogênio.
Trazendo junto a ignorância e a cavalaria
Atropelando a revolta,
E as vidas cansadas.

Uma vez me disseram
Que dizer a verdade às vezes machuca.
Só não imaginava
Que os ensanguentados
Eram os sinceros.

Bem vindo a guerra!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

As estrelas


As estrelas... eu não entendo,
Em algumas noites ficam me olhando,
Mas não se importam se parecem atrevidas.
É claro!
Elas não se preocupam com besteiras.
Talvez por isso nunca ficam tristes.
Não sofrem como nós sofredores.
São contentes
De um nível em que não alcançamos.

Humanos não tocam o céu!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Breve descrição de um cachorro


Sou um cachorro,
Cachorro leal
Ao que acredito
Até por isto estou aqui,
Pois acredito nos homens.
Que podem mudar
O que começaram,
Por isso quero ensinar
E sempre aprender.

Sou cachorro
Vira-Lata
Sem raça definida.
Sou todas as raças
Um pouco do Sul
E outro do Nordeste.
Vivo numa casinha
Nos fundos do casarão de São Paulo.

Sou cachorro
Que não late muito,
Mas que nem outros cães
É bem fácil saberem
Quando estou triste ou feliz
Ou até mesmo manso ou raivoso.

Ás vezes
É bem difícil ser cachorro,
Pois ser cachorro é sentir demais
O que nem todos sentem.
É ser amigo
De quem não merece amizade.
Mas não posso reclamar
Pois ser cachorro
É se encantar com aquilo que é simples
E nunca perder a valentia.

Vivo roendo osso,
Mas e daí?
Pra mim o mais importante
É extrair o gosto bom das coisas.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Pássaro

Sou como um pássaro na gaiola,
Comendo o alpiste que determinam
No tempo contado de seus relógios
Pra depois cantar na longa jornada.

Fui capturado
Pela necessidade de comer.
Trancaram-me
Nesta vida minha adestrada.
Vidas nossas
Penduradas nas extremidades dos casarões.
Sem libertação
Para desfrutar do meio.

Chegou a hora de quebrar estas grades,
Bater as asas
E degustar os frutos
Que nunca me ofereceram.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Poesia do silêncio

O silêncio é a poesia
Estancada no vale da consciência.
É a poesia reprimida,
que se mantêm indecifrada.

Poesia oculta,
Revoltada e paralítica.
É a poesia fingidamente morta,
Sem exclamação e sem música.

Nós humanos que criamos termos
Somos os mesmos que calamos discursos.
Passamos a vida à poetizar
Sem uma expressão recitar.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Trajeto

A metrópole
Cada vez mais inchada.
Mais desnivelada,
Das distâncias que se extendem,
Com carros que já não correm
E pessoas que se expremem.
Da periferia ao centro
Tudo assim.
Todos os dias enfrentando
Transcendendo:

Passo M'boi Mirim numa luta,
Que sufoco!
Guarapiranga,
Marginal.
O trajeto é como um rio
Que te afoga.
Cidade Jardim,
Não!
Pois é,
Cidade selva,
Mais feroz
Que qualquer guerra enfrentada por Brigadeiro Faria Lima.
Rebouças,
Retrombas,
Revoltas.
Somente resta
A Consolação de chegar.
Chegar,
Para a batalha diária continuar.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Viva as frustações da vida, pois elas me ensinaram a ser mais forte.

Sem sentido

Coisas já não fazem sentido,
Como a promessa esquecida,
Ou o breve que tarda.
O dicionário que confunde,
O bondoso covarde.
Coisas já não fazem sentido.

A ferida não pungente
De um amor não eterno.
O fogo não ardente,
Esse é o fundo superno.

Coisas já não fazem sentido,
Como o sonante em tom mudo,
Numa guerra sem desafetos,
Em amplos territórios estreitos.
Coisas já não fazem sentido.

Já não faz sentido desejar
Aquilo que não se pode ter.
Já não faz sentido amar
E por cincunstância sofrer.

Tráfego

A cidade não pára,
Não pára de parar
Na hora do pico
Não pára de crescer
Pra cima, pra baixo
Não pára o descaso
Não!
Pára!
Mais uma vida
Não pára de morrer
Não param de crescer
Não param, não param
Não param os números
Pra mais,
Pra menos.
Não pára a cidade.
Parado,
É um assalto!
Me dá seu dinheiro,
Não pára de pagar
Lícito, ilícito
Legalizado, irregular
É um assalto!
Não pára não,
Continua andando
Não olha pra trás,
Atrás
Dos prédios,
Não para a cidade.
Não param os morros.
Morro de fome,
Não pára essa ânsia.
Não param os morros,
Pra cima, pra baixo
Não param de crescer,
Essa distância
Do quilombo ao Paraíso
Não pára o Paraíso belo,
Não pára de cegueira,
Prá'queles que não podem desfrutá-lo.
Tens os melhores frutos
E eu
Não páro de comer o caroço.
Passageiro cotidiano de navio negreiro,
Meu destino certo é receber xicotadas.

Por tudo isso
Parou-se a voz,
Parou-se o suspiro,
Parou-se no tempo,
Parou-se tudo!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Neste mundo de ilusões,
Enquanto muitos lutam para ser alguém,
Eu luto para não deixar de ser eu mesmo.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Negociador

Topou tudo
Pelo prazer de enriquecer.
Porém,
É mais pobre que os miseráveis.
Ele
Abdicou de seu caráter,
De sua inteligência,
De seu amor,
E de sua honestidade.

Tornou-se escravo da própia ganância.