quarta-feira, 31 de março de 2010

Poema deste universo

Sou uma noite infinita,
Desaparecida
No universo esquecido de meus pesadelos.

Não nasci Sol,
Pois nem ao menos um Girassol
Levantou-se para me cumprimentar.

Minha vida é um espaço aberto,
Em que os Corpos e as Almas
Afastaram-se por muitos quilometros
Com medo de perderem
Alguma parte do que acumularam.

É um desafio imenso
Viver sem estrela,
Porém
Mesmo sem me notarem
Estou aqui e ali
Cobrindo o precipício
Que os Astros não querem cobrir.

Se tiver sorte
Algum dia, quem sabe?
Seja possível juntar
Uns pedacinhos de coisas
E finalmente
Deixar de ser indigente.

terça-feira, 30 de março de 2010

"Baseado" em fatos reais

Para não perder o fumo
Voltemos para o mundo da realidade.
Voltemos a viver na sociedade.
Voltemos inutilmente a procurar emprego.
Voltemos a estudar sem condições e apego.
Voltemos a adoentar sem atendimento.
Voltemos a viver sem o mínimo respeito.
Voltemos a pagar sem receber.
Voltemos a mentir sem convencer.
Voltemos a imitar o lixo da lixeira.
Voltemos a cuspir na própria bandeira.
Voltemos a morrer de bala perdida.
Voltemos a viver nossa vida.

Aos velhos hábitos,
Sentir o efeito da maconha que consumimos.

domingo, 28 de março de 2010

Robótica

Desde nascidos, programados
Vida lógica, robótica.
Cada um, cada qual
Com igual sistema operacional.

Propriedades da mesma ideologia.
Conectados chips de obediência
É possível o controle comandante:
Padronizado, capitalista.

Robôs com defeito,
(Não enquadrados no padrão de qualidade)
Sendo objetos,
Normalmente não recebem perdão.
Levam em geral
Desprezo, bofetadas, coronhadas e tiros.

No decorrer da história
O destino é ser lixo na beira do córrego.

sábado, 27 de março de 2010

Soneto da América

A América está dividida:
Uma parte subalterna explorada;
Outra parte comandante tirania
Infectando com veneno e ideologia.

É cantado o hino da liberdade,
Porém, o latino sem tal virtude
Tem que se ajoelhar com revolta
E reverenciar o compasso terrorista.

Porque nas Américas dos contrates
A que manda é somente uma,
A que por seu ordenado fostes.

Até comer e beber coisa alguma
No que se pensa são nos seus costumes.
Do Tio San não há nada que não se consuma.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Estações

Vem a primavera sempre estática
Virgem flor, esbelta, franca.
Cantando inocente seus sonhos,
Trilhando, mirando caminhos.

O verão chega sempre ardente.
Quente, instantâneo quente
Que faz até a alma chorar:
Tempestades a fazer alagar.

Outono sempre quebra o clima
Floresta é seca não sendo a mesma
Sem folhas nos galhos, chão de palavras
Momento de pensar que tudo exalas.

No inverno, o corpo, a retração
Retrato físico após a argumentação,
Imergida por consequência do tempo frio
Entrega-se a saudade e ao delírio.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Sistematicamente

Toda esta vida me ensinou
Que todos os dias são sempre o mesmo dia,
Que todas as pedradas vem sempre da mesma mão,
Que todas as imposições vem sempre da mesma tirania,
Que todas as tristezas vem sempre da mesma desilusão,
Que todas os objetivos vem sempre da mesma ganância,
Que todos os famintos brigam pelo que sobra do último pão.
Sempre,sempre a mesma coisa.
Os mesmos senhores
Com as mesmas máscaras,
Que dão sempre as mesmas esmolas
Para os mesmos sofredores.
Sempre,sempre a mesma história
Composta da mesma ideologia,
Da mesma luta pelo status,
Mas sempre nos mesmos terrenos estreitos.
Sempre o mesmo caminho
Que chegam sempre no mesmo destino.
(Isto quando de comum
Não se morre antes de chegar).
Sistematicamente, o mesmo.

Eu, ainda bem revoltado
Sempre há de ser o rebelde.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Chacina sincronizada

A faca corta,
a bala fura,
a granada explode.
Criança
fraca a caçar no lixo.
Alimento
uma boca, duas bocas, doze bocas,
na dificuldade que é.
O salário
que eu ganho,
é pouco para o que se merece.
Viver
esquecido pelo poder público,
refém do poder privado.

As armas matam milhares de pessoas todos os dias.

terça-feira, 16 de março de 2010

Poema meio estranho

Meias palavras
Não são
Meios sentimentos.

Quando doze são os sonhos
Tenho a noção de
Meias tristezas
Meia dúzia de rosas vermelhas
Cortadas
A me fazer sangrar.

Muitos sussurros,
Tantas dores,
Diversos temores.
Minha maior mentira
É dizer
Meia verdade
Falsidade
Do medo que prevalece
Num corpo que pré envelhece
Como tolice
De média escala.

De tudo
De pouco

Sem mais
Sem menos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Poema sentimental

Para onde foi o amor depositado?
Foi-se com todo sonho perdido,
Frágil sequestrado angustiado,
Sem sequer ter sido ouvido

Que raiva de tudo isso,
Todo o choro é muito preciso.
O coração é mais inverso
Do consolo que eu cobiço.

Ainda bem que o amor não morre,
Pois a esperança de reencontrá-lo
Diminui esse ódio que corre

Batendo como um martelo
Nesta alma alagada de porre,
Sem sentir ao menos o zelo.

sábado, 6 de março de 2010

Gula literária

Literatura,
Meu alimento mais nutritivo,
Donde a energia é extraída
Para me fazer caminhar.

De reações complexas
À circular em minhas veias
Funcionando no meu pensar.

Arte de fibra,
Capaz de expelir
Toda porcaria a me contaminar.

De tanto te querer,
De tanto digerir,
Já se sobra a tua obra
O peso de me aguentar.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Enquanto a humanidade tenta registrar sua história com o dinheiro, eu sempre à esquerda das coisas, tento registrar minha identidade com a foice e o martelo.